Professor ou educador

4/05/2015 | Luiz Mascarenhas

                A Educação e seus múltiplos problemas são alvo do pensamento e da escrita de dezenas de pessoas. Alguns técnicos, filósofos, sociólogos, profissionais da área, políticos e outros apenas e tão somente os velhos e conhecidos palpiteiros de sempre;  e que nem sempre são felizes ou fazem alguma colocação  que sirva de fato e de direito para algo em concreto.

                De oportunistas, o mundo e as páginas dos jornais estão cheios. Elementos  que querem se promover a todo custo e muita das vezes, sem nenhuma responsabilidade para com o que dizem ou escrevem.  Dedicam-se aos factoides semanais,  fazem sua misancene; buscando um reconhecimento social,   disfarçados de “justiceiros”, defensores dos fracos e oprimidos  e, obviamente,  esperando colher seus futuros resultados eleitoreiros….

                Mas, vamos ao cerne da questão.

                Professor ou educador?

                Digo sempre: PROFESSOR! Eu sou um professor. E não admito que me chamem de educador.

                Por que? Bem simples a questão. Imagine EDUCAR alguém.

                EDUCAR é algo imenso. Educar é um processo complexo, gradual, paulatino, que exige uma abrangência enorme no que se diz respeito à formação do ser humano!

                Sou bem mais modesto. Sou realista. Sou bem consciente de mim mesmo.

                Cursei uma faculdade. Aliás, duas- no meu caso- Direito e História- e não me sinto preparado para ser “educador”; como dizem, eu tenho espelho em casa.

                Alguns, por aí, embalados por uma vaidade quase pueril, se auto intitulam “educador”, sem ao menos, realizar um exercício mínimo de reflexão sobre esta palavra: Educador.

                Confunde-se Educação com Escolarização.

                Já diziam os antigos e com muita sabedoria: “ a Educação vem do berço”; ou seja, Educação é algo próprio da Família, em primeiro lugar.

                Aliás, a Educação, é  contemplada pela nossa Lei Maior, a Constituição da República, como  um Direito Social ( vide art.6º) e pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996) que regulamenta os dispositivos constitucionais e  assinala  em seu  art. 2º: “ A educação, dever da família e do Estado”; ou seja, a própria Lei deixa muito claro, que em primeiro lugar, a Educação é um DEVER da Família.

                Então, muitas vezes alguns pais perguntam –durante uma reunião de Pais & Mestres- em que “ a Família pode auxiliar a Escola na Educação de nossos filhos?”, quando na verdade, a pergunta seria: “em que a Escola pode auxiliar a Família na Educação de seus filhos?”

                Reiterando: sou um Professor. Cursei uma faculdade, prestei um concurso público e uma vez aprovado, ingressei na carreira do Magistério. No meu curso, estudei História. Prepare-me para ser um Professor de História. Um profissional da área da Educação com especializa&ccedi
l;ão em História. Não me formei para ser “Educador”…

                Claro, lógico, evidente ululante, que, na convivência sadia com meus alunos, eu possa lhes passar valores e ensinamentos úteis à sua vida social, além da profissional. Porém, não é minha principal tarefa. Minha tarefa como Professor de História é que meu aluno saiba a História que lhe ensino. Afim de se capacitar para as etapas seguintes de sua escolarização e quiçá, a aprovação em concursos onde se lhe for exigido o conhecimento da História e ainda, por consequência, ter uma noção da própria trajetória humana, na construção de nossa civilidade.

                Educador é o papai. Educadora é a mamãe. Pois filho é para a vida inteira.

                Filhos são um, dois e quem sabe três.

                Professor é professor. Sou um profissional da Educação.

                Aluno é transitório. São trinta, quarenta por turma.

                E não me venham com aquela imagem romanceada e mítica do professor…Tentando colocar o magistério como um sacerdócio, onde nós –professores- temos de ser os mártires da Educação. Temos de nos “doar”  de bom grado , mesmo sem condições, em prol do futuro da Nação…Por que não dizem isto para os médicos, engenheiros, advogados, economistas? Nós, professores, somos profissionais como eles.

                Percebe como essa visão tão enobrecida  e tão decantada  em cores suaves não ajuda no entendimento de que o professor é um profissional, como outro qualquer, e que precisa de uma carreira digna, salário justo e condições de trabalho adequadas?

                Fato consumado e notório que em nosso país, a EDUCAÇÃO nunca teve, NUNCA – por parte dos Governos – a atenção e a dedicação necessárias; se o tivesse, nosso país seria bem outro, em todas as outras áreas.

                 E como em todas as outras profissões, temos  Professores e “professores”. Ou seja, temos sim excelentes profissionais da Educação, que trabalham com seriedade, com competência e com ética. Professores que dominam e muito bem seu conteúdo, tem didática e conseguem – por isso – manter a disciplina em sala de aula. Professores que buscam diuturnamente otimizar sua capacitação. Pesquisam e se desdobram para acompanhar os avanços técnicos de suas disciplinas. Tudo isso, apesar dos pesares, como o baixo salário e as condições de trabalho inadequadas.

                Porém, reiterando, como em todas as outras profissões….Existem os péssimos profissionais da Educação. Os embromadores de aula, que entram para uma sala de aula e enrolam o tempo todo, “dadores” de aula. Gente que nunca deu uma boa aula na vida….Aliás, nem sabem como fazê-lo….enfim, pessoas que jamais, nunca e em tempo algum teriam a menor vocação para serem Professores. Essas “figuras” maculam e muito a nossa Profissão.

                E pior, muitas destas figuras, são as que mais fazem “barulho” por aí, levando a descrédito toda a luta da categoria. Enfim, a EDUCAÇÃO precisa sim de inúmeras melhorias e avanços e o Profissional da Educação, o PROFESSOR ( professor, sem essa aura ou balela de “Educador”) merece respeito e valorização;  o que depende também da ação e postura de cada um de nós!

                E com relação à violência para com os professores de Curitiba, no Paraná?

                Toda violência é injustificável. Toda.

                E pior, agora, pois o fato foi cooptado pela politicagem. Transformou-se em subsídio  para conflitos menores, partidários. Nessa eterna batalha de PT versus PSDB;  sendo ambos lados diferentes da mesma moeda.

                Alguns irão dizer…”ah, mas infiltrados nos professores haviam elementos de tais e tais grupos radicais de esquerda…seja lá o que for…sabiam todos que por primeiro, era uma manifestação de professores.

                Como separar joio de trigo em meio a uma multidão?

                 Enfim, repudio com veemência os atos de repressão contra os professores do Paraná e a eles me solidarizo. A situação poderia ter sido resolvida  antes de se chegar ao triste episódio.

                “Diga-me eu esquecerei, ensina-me e eu poderei lembrar, envolva-me e eu aprenderei.” Benjamin Franklin

*bacharel em Direito/ Licenciado em História

Pela Universidade de Itaúna/Diretor da E.E.

“Prof. Gilka Drumond de Faria”

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