Recorde: 76% das famílias estão endividadas

18/01/2022 | Brasil

Cerca de 10,5% das famílias não têm condições de pagar as dívidas – Foto divulgação

 

 

O Brasil fechou o ano de 2021 com recorde de famílias endividadas: sete em cada 10 núcleos estão com alguma conta em atraso. O percentual médio de 70,9% é o maior da série histórica da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), desenvolvida pela Confederação Nacional do Comércio (CNC) desde maio de 2010.

 

O recorde anterior era de 66,5%, referente à mediana de 2020. De acordo com a CNC, o percentual de famílias endividadas deu sinais de alta durante todo o ano passado, mas decolou a partir de maio.

 

O aumento do endividamento a partir do quinto mês de 2021 não é por acaso. Foi justamente nesse período em que boa parte das cidades brasileiras flexibilizou suas atividades comerciais por conta da pandemia. Com a reabertura, o consumo cresceu.

 

Em dezembro, por exemplo, a proporção de endividados alcançou o patamar máximo histórico: 76,3%, informa a CNC.

 

Quanto às regiões, o percentual de endividados é maior no Sul do Brasil: 81,7%. No Sudeste, onde está a maior concentração de renda do País, a taxa é de 69,1% – a menor medida pela pesquisa.

 

Corda no pescoço

 

Além do percentual de famílias com dívidas, a Confederação Nacional do Comércio (CNC) levantou quantos brasileiros não têm condições de pagar suas contas.

 

De acordo com a pesquisa, em média, 10,5% das famílias não tiveram condições de arcar com suas dívidas em 2021. Essa é a segunda maior mediana da série histórica, atrás apenas de 2020: 11%.

 

Para a economista Izis Ferreira, responsável pela pesquisa da CNC, o prognóstico para este ano segue a mesma tendência do fim de 2021, ao menos nesses primeiros meses: endividamento em alta, precarização do trabalho e contas chegando.

 

“As famílias, nesse início de ano, vão enfrentar as mesmas dificuldades que trouxeram de 2021, como por exemplo a inflação alta e disseminada. O mercado de trabalho ainda fragilizado, com a geração de vagas formais concentradas em áreas de baixa remuneração”, afirma.

 

Segundo a especialista, as contas do início de ano também pesam no orçamento: IPTU, IPVA e material escolar, principalmente. “Já temos um número bastante expressivo de famílias endividadas. Então, isso dificulta ainda mais o equilíbrio das contas. (É preciso) evitar as despesas consideradas supérfluas”, analisa.

 

Cartão de crédito é vilão

 

Entre as famílias consideradas mais ricas, a demanda represada, em especial pelo consumo de serviços, fez o endividamento aumentar ainda mais expressivamente, em especial no cartão de crédito.

 

Em média, 82,6% das famílias brasileiras com algum débito deviam justamente a fatura do crédito em 2021. Na sequência, aparecem os carnês (18,1%) e os financiamentos de veículos (11,6%).

 

Para a economista Izis Ferreira, a inflação de 10% (conforme o IPCA) em 2021 fez com que as famílias recorressem ao crédito para pagar suas contas.

 

“As famílias precisaram recorrer ao crédito para recompor a renda ou retomar o consumo de bens e serviços. Entre aquelas com até 10 salários-mínimos de renda mensal, a inflação foi a grande vilã. Ela tirou espaço do orçamento e o poder de compra”, explica Izis.

 

Para ela, quem não sabe como pagar seus débitos deve procurar as instituições financeiras (no caso do cartão de crédito) para tentar uma renegociação. O mesmo vale para quem deve outras pessoas jurídicas, como no caso dos financiamentos de veículos.

 

Metodologia

 

A CNC ouviu cerca de 18 mil consumidores de todos os estados e do Distrito Federal para apurar os dados.

 

“O aspecto mais importante da pesquisa é que, além de traçar um perfil do endividamento, permite o acompanhamento do nível de comprometimento do consumidor com dívidas e sua percepção em relação à sua capacidade de pagamento”, informa a confederação.

 

Por O Tempo 

 

 

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