Um ano da tragédia de Brumadinho: 11 continuam desaparecidos

25/01/2020 | Minas Gerais

Foto Agência Reuters

Passado um ano da tragédia provocada pelo rompimento da barragem da Vale em Brumadinho (MG), o Congresso Nacional ainda não aprovou nenhuma proposta para endurecer a punição aos responsáveis por esse tipo de desastre – sejam pessoas ou empresas.

Em 25 de janeiro de 2019, uma sexta-feira, às 12h28, a barragem da mina Córrego do Feijão, da Vale, se rompeu e provocou um tsunami de lama que avançou sobre parte da cidade de Brumadinho. O rompimento deixou 259 pessoas mortas – 11 ainda estavam desaparecidas até este sábado (25). Na cidade, crescem os casos de suicídio e doença mental em decorrência da tragédia.

Desde então, deputados e senadores apresentaram pelo menos 37 projetos com o objetivo de aprimorar a segurança em barragens, estipular multas e aumentar penas para responsáveis por rompimentos. Nenhum desses textos foi transformado em lei.

O Congresso também criou duas comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) – uma no Senado e outra na Câmara – e uma comissão externa de deputados para acompanhar a tragédia.

Juntas, as CPIs produziram cerca de 3 mil páginas de relatórios. A do Senado propôs o indiciamento da mineradora Vale, da empresa de consultoria TÜV SÜD e de 14 pessoas. A da Câmara sugeriu o indiciamento de 22 pessoas e das duas empresas.

Na última terça (21), o Ministério Público de Minas Gerais denunciou 16 pessoas, a Vale e a TÜV SÜD pelas mortes. Até o momento, no entanto, ninguém foi condenado pela Justiça.

G1

Vale considerava 7 barragens mais críticas que a de Brumadinho

A barragem I da Mina Córrego do Feijão, era a oitava que mais preocupava a Vale. Um sistema interno da mineradora guardava uma lista intitulada “top 10”, na qual se elencava as dez estruturas consideradas mais críticas. Todas tinham, segundo a lista, probabilidade de falha “acima do limite de aceitação”.

O sistema interno foi descoberto no curso das investigações e foi classificado de “caixa-preta da Vale” pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG). A lista das “top 10” foi incluída na denúncia. São estruturas que também tinham sido classificados dentro da “zona de atenção”, em outro documento que já havia se tornado público.

O topo da lista é ocupado pela Barragem Capitão do Mato, da Mina Capitão do Mato, em Nova Lima (MG). A estrutura está inoperante e com declaração de estabilidade negativa, documento que deve ser apresentado à Agência Nacional de Mineração (ANM) duas vezes ao ano: em março e em setembro. Ele deve ser elaborado por uma empresa auditora contratada pelo empreendedor e é necessário para que cada estrutura possa manter suas atividades. Na última ocasião, 18 barragens da Vale registraram declaração negativa.

Entre as estruturas que constam na lista “top 10”, cinco estão com atestado de estabilidade negativo. Entre elas, as barragens Forquilha I, Forquilha II e Forquilha II, localizadas em Ouro Preto (MG). As três estão entre as estruturas que não passaram no pente-fino realizado após a tragédia de Brumadinho e tiveram seus níveis de emergência elevados para 2 ou 3, o que obriga a mineradora a realizar a evacuação  de áreas que seriam atingidas no caso de uma ruptura.

Agência Brasil

Parque Estadual

A área atingida  pelo rompimento da barragem de rejeitos de minério da Vale, poderá se transformar em parque estadual. “Mas tudo vai depender das nossas conversas com as famílias das 270 vítimas”, disse, na manhã deste sábado (25), o governador de Minas, Romeu Zema, ao participar do lançamento da pedra fundamental da iniciativa, na Base Bravo dos Bombeiros. “É um marco para que isso nunca mais aconteça. Espero ser o último governador de Minas em cuja gestão houve rompimento de barragens”, disse o governador.

A primeira cerimônia deste sábado (25), que marca um ano da maior tragédia humanitária da história do país e reverencia a memória das vítimas, foi marcada pela emoção. Com a camisa trazendo a foto do irmão Evandro Luiz dia Santos, que morreu aos 50 anos e só foi encontrado seus meses depois, Polyana Risa da Silva Amaral, pediu justiça. “A dor é a mesma, a revolta também. Não podemos esquecer, nem deixar que os culpados fiquem sem punição”, disse Polyana com uma rosa na mão, ao lado do marido, igualmente emocionado, Edson Amaral de Oliveira.

O dia de saudade e lembranças na Base Bravo dos Bombeiros teve um minuto de silêncio, orações e balões brancos, lançados ao céu com um um pouco de sol e simbolizando as vidas perdidas na tragédia.

Uai

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